terça-feira, 26 de junho de 2012

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Síntese - Tradição Viva

SÍNTESE – CAPÍTULO 8 - A Tradição viva – A. Hampaté Bâ– Professor Ivaldo Marciano – texto 2 – disciplina de Tradição oral e comunidade.
Por Nazarete Andrade Mariano
Linha 2- Letramento, Identidade e Formação de Professor
Síntese
O texto faz alusão a tradição da história da África, inicia com uma introdução afirmando que esta herança não se perdeu (tradição oral) e reside na memória da última geração de grandes depositários, de quem se pode dizer são a memória viva da África. [...] durante muito tempo, nações modernas, julgou que povos sem escrita eram povos sem cultura. Esse conceito infundado começou a desmoronar após as duas últimas guerras, graças ao notável trabalho realizado por alguns dos grandes etnólogos do mundo inteiro. ( p. 167)
O autor aborda que para alguns estudiosos, o problema todo se resume em saber se é possível conceder à oralidade a mesma confiança que se concede à escrita quando se trata do testemunho de fatos passados. [...] O testemunho, seja escrito ou oral, no fim não é mais que testemunho humano, e vale o que vale o homem. ( p.168)
Bem pertinente quanto afirma que os primeiros arquivos ou bibliotecas do mundo foram o cérebro dos homens. Antes de colocar seus pensamentos no papel, o escritor ou estudioso mantém um diálogo secreto consigo mesmo. Antes de escrever um relato, o homem recorda os fatos tal como lhe foram narrados ou, no caso de experiência própria, tal como ele mesmo os narra. ( p.168)
Nada prova a priori que a escrita resulta em um relato da realidade mais fidedigno do que o testemunho oral transmitido de geração a geração. [...] os próprios documentos escritos nem sempre se mantiveram livres de falsificações ou alterações, intencionais ou não, ao passarem sucessivamente pelas mãos dos copistas – fenômeno que originou, entre outras, as controvérsias sobre as “ Sagradas Escrituras”.
Adentra nessa discussão de forma peculiar , acredito que esta uma características dos pesquisadores da história, pois segundo o autor, nas sociedades orais que não apenas a função da memória e mais desenvolvida, mas também a ligação entre o homem e a palavra é mais forte. Onde não existe a escrita, o homem está ligado à palavra que profere. [...] porém ,a escrita pouco a pouco vai substituindo a palavra falada, tornando-se a única prova e o único recurso; vemos a assinatura tornar-se o único compromisso reconhecido, enquanto o laço sagrado e profundo que unia o homem à palavra desaparece progressivamente para dar lugar a títulos universitários convencionais. ( P.168)
É interessante destacar que nas tradições africanas a palavra falada se empossava, além de um valor moral fundamental, de um caráter sagrado vinculado à sua origem divina e às forças ocultas nela depositadas. Agente mágico por excelência, grande vetor de “forças etéreas”, não era utilizada sem prudência. ( P. 169)
Assim o autor vai mostrando o que é a tradição oral, a grande escola da vida, e dela recuperam e relaciona todos os aspectos. [...] a tradição oral conduz o homem à sua totalidade e, em virtude disso, pode-se dizer que contribuiu para criar um tipo de homem particular, para esculpir a alma africana. ( p. 169)
O subtópico “ A origem divina da Palavra” mostra um exemplo das tradições da savana ao sul do Saara, que retrata a tradição, o mito da criação do universo e do homem, ensinando pelo mestre iniciador do komo. [...] ( p.170/171). O autor afirma que a tradição africana, portanto concebe a fala como um dom de Deus. Ela é ao mesmo tempo divina no sentido descendente e sagrada no sentido ascendente. ( p. 172)
“ A fala humana como poder de criação” para os Maa Ngala, segundo o autor, a fala pode criar a paz, assim como pode destruí-la. É como o fogo. Uma única palavra imprudente pode desencadear uma guerra, ( Malinês) [...] a fala por excelência é o grande agente ativo da magia africana. ( p. 173)
“ A fala, agente ativo da magia” na Europa, a palavra “magia” é sempre tomada no mau sentido, enquanto que na África designa unicamente o controle das forças, em si uma coisa neutra que pode se tornar benéfica ou maléfica conforme a direção que se lhe dê. ( p. 173)
[..] o contexto mágico – religioso e social se situa o respeito pela palavra nas sociedades de tradição oral, especialmente quando se trata de transmitir as palavras herdadas de ancestrais ou de pessoas idosas. O que a África tradicional mais preza é a herança ancestral. O apego religioso ao patrimônio transmitido exprime-se em frase como: aprendi com meu mestre, aprendi com meu pai, foi o que suguei no seio de minha Mãe. (P. 174)
“ Os tradicionalistas” – os grandes depositários da herança oral são os chamados tradicionalistas. Memória viva da África, eles são suas melhores testemunhas. ( p. 174). Percebe-se que de maneira geral, os tradicionalistas foram postos de parte, senão perseguidos, pelo poder colonial que, naturalmente, procurava extirpar as tradições locais a fim de implantar suas próprias ideias, pois, como se diz, “ Não se semeia nem em campo plantado nem em terra alqueivada”. Por essa razão, a iniciação geralmente buscava refúgio na mata e deixava as grandes cidades de brancos ( dos colonizadores). ( P. 176)
[...] os últimos anciãos herdeiros dos vários ramos da Tradição provavelmente terão desaparecido. Se não nos apressarmos em reunir seus testemunhos e ensinamentos, todo o patrimônio cultural e espiritual de um povo cairá no esquecimento juntamente com eles, e uma geração jovem sem raízes ficará abandonada à própria sorte. ( P. 176)
“ Autenticidade da transmissão” ( p. 176), o autor remete à obrigação de respeitar a verdade mantida pelos tradicionalistas –doma, pois a tradição africana abomina a mentira. Diz-se: “ Cuida-te para não te separares de ti mesmo.” Acredita-se que isso deve-se ao fato de que se um oficiante mentisse, estaria corrompendo os atos rituais e este não mais preencheria o conjunto das condições rituais necessárias à realização do ato sagrado. Com isso, é pertinente observar que (segundo o autor) Independentemente da interdição da mentira, ele pratica a disciplina da palavra, pois se a fala é considerada uma exteriorização das vibrações de forças interiores, inversamente, a força interior nasce da interiorização da fala. (p. 178)
Outro ponto interessante do texto é em relação “ Os ofícios tradicionais” que são (segundo o autor) os grandes vetores da tradição oral africana, inclusive as atividades humanas possuíam um caráter sagrado ou oculto, principalmente as atividades que consistiam em agir sobre a matéria e transformá-la, uma vez que tudo é considerado vivo. (P.186) É pertinente contemplar que a relação do homem tido como tradicional com o mundo era, portanto, uma relação viva de participação e não uma relação de pura utilização. É compreensível que, nesta visão global do universo, o papel do profano seja mínimo. ( p.189) Assim, a terra pertencia a Deus, e aos homens cabia o direito de “ usufruir” dela, mas não o de possuí-la. Como isso, pode-se dizer que nem tudo que se aprendia na escola, com a educação moderna, era vivido, pois o conhecimento herdado pela tradição oral fomentava-se na totalidade do ser, ou seja, se materializava como as palavras sagradas e obriga o aprendiz a viver a palavra a cada gesto. ( p. 189)
Inclusive cada povo possui heranças ou dons que lhe são peculiares, assim transmitido de geração a geração como os Dogon do Mali têm a reputação de conhecer certos segredos e dom de curar sem deixar marcas como a lepra ou recolocar um ombro quebrado, até mesmo em caso de fraturas graves. Uma curiosidade bem interessante é que a tradição confere aos seus participantes um status social especial, podendo se manifestar a vontade, inclusive às vezes podem até contar mentiras descaradas e ninguém os tomará no sentido próprio. ( p. 193) Outro ponto que chama a atenção é que a sociedade africana está fundamentalmente baseada no diálogo entre os indivíduos e na comunicação entre comunidades ou grupos étnicos, os griots são os agentes ativos e naturais nessas conversações. (p.193)
O autor cria um sobtópico cujo título é “ Como tornar-se um tradicionalista” para tanto deve ser conhecedor e ter aptidões individuais, uma vez que o conhecimento era algo valorizado, pois este não distingue raça e nem “porta-paterna” ele enobrece o homem, como assim diz o provérbio. (p.200) interessante lembrar que o segredo velho não se compra com dinheiro, mas com boas maneiras. (p. 201)
A influência do Islã, segundo BÂ, grandes escolas islâmicas puramente orais ensinavam a religião nas línguas vernáculas. Independentemente de uma visão sagrada comum do universo e de uma mesma concepção do homem e da família.
O autor faz uma ilustração prática “História de uma coleta” de como narrativas históricas, entre outras, vivem e são preservadas com extrema fidelidade na memória coletiva de uma sociedade de tradição oral, conta que a maneira consegue reunir, unicamente a partir da tradição oral, os elementos que me permitiriam escrever a História do Império Peul de Macina no Século XVIII. O autor diz ainda, que usou o método de gravar as narrativas, sem a preocupação com a veracidade ou com um possível exagero. Essa coleta exigiu 15 anos de trabalho que no final manteve apenas os relatos concordantes, o que eram conformes tanto às tradições como também às das demais etnias. Provando que a tradição oral era perfeitamente válida do ponto de vista cientifico. Assim, nenhum narrador poderia mudar os fatos, pois a sua volta haveria sempre companheiros ou anciãos que imediatamente apontariam o erro, fazendo-lhe a séria acusação de mentiroso. (p.207)
Assim o escritor aborda as “Características da memória africana entre os povos do mundo, constatou-se que os que não escreviam possuíam uma memória mais desenvolvida. Inclusive a memória africana que registra toda uma cena com detalhes, contribuindo para dar vida a esta cena, sem receio de se repetir, pois são como arquivos que constitui uma verdadeira biblioteca onde os arquivos não estão “ classificados”, mas totalmente inventariados. (p. 208/209)
O autor conclui dizendo que para a África, a época atual é de complexidade e de dependência. Os diferentes mundos, as diferentes mentalidades e os diferentes períodos sobrepõem-se, interferindo uns nos outros, às vezes se influenciando mutuamente, nem sempre se compreendendo. Pois, a África do século XX encontra-se lado a lado com a Idade Média, o Ocidente com o oriente, no modo de pensar o mundo, com o “animismo”, modo particular de vivê-lo e experimentá-lo na totalidade do ser. De uns anos para cá uma importante parcela da juventude culta vem sentindo cada vez mais a necessidade de se voltar às tradições ancestrais e de resgatar seus valores fundamentais, a fim de reencontrar suas próprias raízes e o segredo de sua identidade profunda. (p.210)

Reflexões sobre a Tradição Oral

RESENHA – CAPÍTULO 7 - A Tradição Oral e Sua Metodologia – J. Vansina – Professor Ivaldo Marciano texto 1 – disciplina Tradição oral e comunidade. Mestranda Nazarete Andrade Mariano

Reflexões sobre a Tradição Oral


O texto inicia com uma breve introdução sobre as civilizações africanas, em especial no Seara e ao Sul do deserto, abordando que na grande maioria dessas civilizações fazia uso da palavra falada, inclusive onde existia a escrita. Esta, ficando em segundo plano em detrimento as preocupações da sociedade, questionando indiretamente se seria um erro reduzir a civilização da palavra falada simplesmente a “ausência do escrever”. O texto de J. Vansina é divido em subtópicos são eles: A civilização oral; A natureza da tradição oral; A tradição como obra literária; Contexto social da tradição; Estrutura mental da tradição; A cronologia; Avaliação das tradições orais; Coletânea e publicação e por fim a Conclusão. Aqui iremos fazer uma rápida abordagem em cada um desses subtópicos para melhor compreensão.
O autor inicia o subtópico 1, A civilização oral, dizendo que um estudioso que trabalha com tradições orais deve adentrar em uma civilização oral em relação ao discurso que nela existe, que é diferente de uma civilização onde a escrita registrou todas as mensagens importantes. Afirmando que em uma sociedade oral reconhece a fala não apenas como um meio de comunicação diária, mas também como um meio de preservação da sabedoria dos ancestrais, no qual o autor chama de elocuções-chave, ou seja, a tradição oral. (p.139)
Aqui remeto a comunidades que ainda têm costumes voltados para a tradição oral que funciona como preservação, um costume ou um elemento cultural através da oralidade, utilizando da tradição oral para testemunhar verbalmente costumes de uma geração para outra, aqui em Petrolina temos o conhecido “ Samba de Véio” que faz uso da oralidade e é passado de geração para geração, utilizando a oralidade e com isso as crianças aprendem convivendo com o samba, ouvindo os mais velhos e fazendo parte das apresentações.
O autor coloca também que em quase toda a parte, a palavra tem um poder misteriosos, até porque a palavra que é o signo cria significados, como diz no texto “ palavras criam coisas.” Assim nos mostra um exemplo da civilização dos Dogon que expressavam o nominalismo nos rituais em o nome é a coisa, e que “dizer” é “fazer”. (p. 140) Assim é pertinente a afirmação de que a oralidade é uma questão de atitude e não a falta de habilidade de expressão, ou seja, é vista como algo pertinente a realidade em que vive, inclusive essas tradições orais podem desmontar que o discurso do historiador contemporâneo que envolvido as evidências de escritas se vê na obrigação de desenvolver leituras dinâmicas para compreender as mensagens com seus diversos dados, uma vez que as tradições sempre fazem retornos contínuos à fonte. ( p. 140) Portanto, um estudo sobre tradição oral deve ter preferencialmente, uma atitude diferente de uma civilização que utiliza a escrita para registrar todas mensagens tidas como importantes, ou seja, deve ter atenção a atitude de uma civilização oral em relação ao discurso, preservando assim a sabedoria dos ancestrais. Servindo de testemunho verbal de uma geração para outra. Diz que o historiador deve aprender a trabalhar ( com a tradição oral) de forma mais lenta, reflexiva, adentrar na representação coletiva, embrenhar – se nos arquivos da memória coletiva. Isso é referente ao historiador e crítico cultural como deve fazer para dialogar com a apreensão dos significados que a memória coletiva presente na tradição oral nos apresenta e representa? Neste contexto, qual é o papel do crítico cultural? Acredito que diferentemente do historiador de historicizar, o crítico irá fazer recortes de situações dessa tradição oral e buscar compreender as diversas situações que dialogam com essa memória coletiva.Percebe-se a tradição oral compõe-se de testemunhos transmitidos oralmente de geração para geração, tendo a linguagem verbal como principal característica, linguagem essa, diferente das fontes escritas. Um arquivo da memoria coletiva pode ser definido de várias maneiras, pois o testemunho pode ser interrompido, corrigido e recomeçar, por exemplo. Assim, acredito que a tradição oral além de fortalecer relações entre pessoas e comunidades, cria uma rede de transmissão de tipos distintos de conhecimento de vida que é importante para a consolidação dos grupos culturais. O autor encerra o primeiro subtópico contemplando que é pertinente ao historiador iniciar seus estudos em relação à civilização da tradição oral, a partir dos modos de pensar da sociedade oral, antes de interpretar suas tradições. (p.140) E fica o questionamento: e o crítico cultural como deve primeiramente iniciar esses estudos?
No segundo subtópico “A natureza da tradição oral” o autor inicia sobre a tradição oral como um testemunho transmitido oralmente de uma geração a outra. Tendo como características particulares o verbalismo e sua maneira de transmissão sendo diferente das fontes escrita. Admitindo a complexidade existente na tradição oral, assim torna-se difícil uma definição precisa diferentemente da escrita que tem um objeto: um manuscrito. Na tradição oral a transmissão seria alterada em contato com outras pessoas, assim teria uma nova tradição. ( p.140) Faz uma resalva dizendo que nem toda informação verbal é uma tradição, pois toda tradição oral se legitima a partir de um relato de um testemunho ocular, assim o boato fica excluído, apesar de transmitir uma mensagem é resultado de um ouvir dizer, mas que, no entanto, pode dar origem a um determinado acontecimento e uma tradição, quando é repetido por gerações posteriores. Portanto, a origem das tradições, pode repousar num testemunho ocular, tanto em um boato quanto em uma nova criação baseada em diferentes textos orais existentes, combinados e adaptados para criar uma nova mensagem. (p. 141) Conclui-se que a natureza da tradição oral a partir de testemunhos oculares, apesar complexidade e da arbitrariedade desse testemunho, declarações de pessoas, sequencias de acontecimentos passados passando de geração para geração.
No terceiro subtópico que tem como título “ A tradição como obra literária”, o autor aborda que em uma sociedade oral, a maioria das obras literárias são tradições conscientes de elocuções orais, que por sua vez a forma e os critérios literários influenciam o conteúdo da mensagem. Deve-se considerar que há quatro formas básicas, resultantes de uma combinação prática dois conjuntos de princípios. Vale lembrar, que em alguns casos as palavras são decoradas, em outros, a escolha é entregue ao artista literato. ( P.142) Assim é fomentado todas as formas e categoria, inclusive faz abordagem a categoria das narrativas que compreendem a maioria das mensagens conscientes, em que a liberdade deixada pelo artista permite numerosas combinações, muitas modelações, reajustes dos episódios, ampliação das descrições, desenvolvimentos, etc. ( P. 144) Assim, percebe-se que o artista é completamente livre, vale lembrar, que do ponto de vista literário, pois o meio social pode impor-lhe uma fidelidade rígida às fontes. Outro ponto pertinente é que toda literatura oral tem sua própria divisão em gêneros literários, considerando aqui visão aristotélica da teoria literária ( poética aristotélica), até porque pela visão da linguística aplicada, inclusive do dialogismo de Bakhtin narrativa não é classificada como gênero e sim como tipologia de gênero. Argumenta também que a crítica literária levará em consideração não apenas os significados literais e pretendido de uma tradição, mas também as restrições impostas, para a expressão da mensagem, por requisitos formais e estilísticos. O autor fomenta também que é neste ponto que a observação das representações sociais relativas à tradição é de fundamental importância. (P. 145)
No quarto subtópico “ Contexto social da tradição” entre outras abordagens é levado em consideração que em uma sociedade oral a compreensão dos vários status sociais ( direitos e obrigações) também é feito pela tradição. Sabe-se, inclusive, que toda tradição terá sua “ superfície social” que suas representações coletiva, traz uma identidade própria, como em qualquer instituição social ou grupo social, que explica e justifica. ( P. 146) Mas, que poderíamos ser tentados a seguir estudiosos que acreditavam poder dizer a priori qual a natureza ou perfil do corpus de tradições históricas de uma determinada sociedade, a partir da classificação das coletividades em tipos como “estados”, sociedades sem Estados, etc. Embora seja verdade que as diversas sociedades africanas possam ser, grosso modo, classificadas de acordo com tais modelos, é fácil demonstrar que essas tipologias podem ser estender ao infinito, pois cada sociedade é diferente, e os critérios utilizados são arbitrários e limitados. ( P. 147)
O autor faz uma analogia utilizando uma exemplificação para destacar particularidades de tradições [...] uma história de família é particular em comparação à história de todo um Estado, e o que ela diz sobre o Estado está menos sujeito a controle do Estado que uma tradição pública oficial. Mas dentro da própria família, a tradição particular torna-se oficial. Em tudo o que diz respeito à família, ela deve, portanto, ser tratada como tal. Compreende-se, assim, por que é tão importante utilizar histórias familiares ou locais para esclarecer questões de história política geral. ( P. 148) No decorrer de seus argumentos o autor faz uso do pensamento de Goody e Watt que afirma uma sociedade oral tende, constante e automaticamente, à homoestase, que apaga da memória coletiva –daí a expressão “ amnésia estrutural” – qualquer contradição entre a tradição e sua superfície social. Porém, não se pode negar o valor histórico das tradições unicamente por desempenharem certas funções. ( P. 149) Vale lembrar que cada tradição tem sua própria superfície social. Para encontrar as tradições e analisar a qualidade de sua transmissão, o historiador deve, portanto, conhecer o tipo de sociedade que está estudando. (p. 150)
Quinto subtópico “ Estrutura mental da tradição” inicia definindo essa estrutura mental que deve ser entendida como as representações coletivas inconscientes de uma civilização, que influenciam todas as suas formas de expressão e ao mesmo tempo constituem sua concepção do mundo, variando de uma sociedade para outra. A tradição sempre idealiza, cria estereótipos populares. ( P. 152) faz uma retomada referente as tradições de reis, os personagens tornam-se estereotipados, portanto, facilmente identificáveis. Como por exemplo, o rei é o mágico, um outro governante é o justo. Outro ponto pertinente é que entre as representações coletivas que mais influenciam a tradição, notaremos, sobretudo, uma série de categorias de base que precedem a experiência dos sentidos. São as do tempo, do espaço, da verdade histórica, da causalidade. Há outras de menor importância como, por exemplo, a divisão do espectro em cores. Todo povo divide o tempo em unidades, baseando-se em atividades humanas ligadas à ecologia ou em atividades sociais periódicas ( tempo estrutural). ( p. 153) Vale destacar que a história da família, segundo o autor, não remonta a um passado muito distante porque esta conta apenas três gerações, e porque, de modo geral, há pouco interesse em lembrar acontecimentos anteriores. Portanto, as instituições que englobam maior número de pessoas se prestam melhor a nos fazer mergulhar mais fundo no tempo. ( P. 154) Exemplo disso ocorre entre os Bateke ( Congo), onde tudo é remetido à geração do pai ou do avô. Tudo, inclusive a história da família real, é dividido entre par e ímpar, o ímpar pertencendo ao tempo dos “ pais”, e o par, ao dos “ avós”. ( p. 154) Segundo o autor, há uma tendência geral a situar a origem de um povo num lugar ou direção de prestígio: direção “sagrada” ou “ profana” de acordo com o pensamento de que o homem evolui do sagrado para o profano ou vice-versa. Cada povo impôs um sistema de direções à sua geografia. São geralmente os rios que dão o eixo das direções cardinais. ( P. 155)
O sexto subtópico “ A cronologia” inicia afirmando que sem cronologia, não há história, pois a tradição oral sempre apresenta uma cronologia relativa, expressa em listas ou em gerações. [...] a tarefa de gerir a tradição recai sobre um complexo grupo de especialistas, cujas afirmações têm sido corroboradas por escavações arqueológicas. ( p. 157) Ainda afirma que os etnólogos mostraram que as sociedades chamadas segmentárias tendem a eliminar ancestrais “inúteis”, isto é, os que não deixaram descendentes que ainda vivam e constituam um grupo separado. [...] Somente os ancestrais “ úteis” são utilizados para explicar o presente. ( p. 157) Vale salientar que os processos de condensação, alongamento e regularização podem afetar as tradições dinásticas tanto quanto as outras. Outro ponto interessante é sobre a sucessão, pois onde a sucessão é patrilinear e primogenitiva, como na região interlacustre, a tendência à regularização dos fatos resultou num surpreendente número de sucessões regulares – isto é, o filho sucedendo ao pai -, que ultrapassa de muito a média, e mesmo os recordes observados em outras partes do mundo. ( p. 158) Todavia, continuando no campo na cronologia relativa, é possível tentar coordenar diferentes sequências vizinhas, separadas e relacionadas, pelo estudo dos sincronismos. [...] (p. 159)
O sétimo subtópico “ Avaliação das tradições orais” diz que a veracidade de uma tradição será mais facilmente constatada se a informação que contém puder ser comparada com a informação fornecida por outras tradições independentes ou por outras fontes. Duas fontes independentes concordantes transformam uma probabilidade em algo mais próximo da certeza. [...] contudo, tem-se constatado uma tendência muito grande em acreditar na pureza e estanquidade inequívocas da transmissão de um grupo étnico para outro. (p. 160)Outro ponto que chamou a atenção neste artigo, foi em relação a ideia de que a concordância estabelecida entre fonte oral e escrita, pois segundo o autor, fica difícil porque tratam de coisas distintas. [...] ( p. 161 ) Em caso de contradição entre fontes orais, deve-se escolher a mais provável. A prática, muito difundida, de tentar encontrar um acordo não faz sentido. Uma contradição flagrante entre uma fonte oral e uma fonte arqueológica se resolve em favor da última, se esta for um dado imediato, isto é, se a fonte for um objeto e não uma inferência, pois neste caso a probabilidade da fonte oral pode ser maior. ( pgs 161/162)
O oitavo e penúltimo subtópico “ Coletânea e publicação” aqui o auto conclui que de tudo que foi dito no decorrer do texto todos os elementos que permitam aplicar a crítica histórica às tradições devem ser reunidos em campo. Isso implica num bom conhecimento da cultura, sociedade e língua ou línguas envolvidas. [...] diz ainda que o historiador deve redescobrir sua própria cultural. ( p. 162) aborda dizendo que é cada vez mais comum encontrar informantes que adquiriram seu conhecimento a partir de trabalhos publicados sobre a história da região.[...] o problema acentua – se com ampliação da pesquisa. Assim, é preciso estruturar a pesquisa de acordo com uma nítida tomada de consciência histórica. Não é possível recolher “ todas as tradições”; tentar fazê-lo só nos levaria a uma massa confusa de informações. É necessário, primeiramente saber quais os problemas históricos que se quer estudar e então procurar as fontes correspondentes. [...] A maior deficiência das pesquisas que fazem atualmente é a falta de consciência histórica. Há uma forte tendência em se deixar guiar pelo que se encontra. [...] falta de paciência é outro perigo. (p. 163) O autor indica que não se deve esquecer que as tradições orais desaparecem, embora felizmente com menos rapidez do que se costuma pensar [...] “ A tradição conta que ... “ faz uma generalização perigosa quando usa estes termos. ( P. 164)
Na última parte do texto “Conclusão” o autor faz uma breve retomada abordando que atualmente a coleta de tradições orais está se processando em todos os países africanos... [...] que além das tradições recentes, existe um vasto corpo de informações literárias, como as narrativas épicas, e de dados cosmogônicos, que podem ocultar informações históricas às vezes relativas a época bastante remotas. [...] a tradição, por si mesma, não permite estabelecer datas. ( p.165) [...] a coleta de tradição ainda parece superficial, e sua interpretação muito literal, muito “ colada” à cultura em questão. Esse fenômeno vem reforçar a imagem de uma África cuja história consiste apenas em origens e migrações, o que, sabemos, não é verdade. Mas devemos admitir que essa é a imagem refletida pelas tradições que procuram estabelecer uma “ identidade”. (P.165) Diz que a experiência prática provou que o valor maior das tradições reside em sua explicação das mudanças históricas no interior de uma civilização. Isso é tão verdadeiro que, como se pode comprovar que quase toda a parte, apesar da abundância de fontes escritas relativas ao período colonial, temos que recorrer constantemente aos testemunhos oculares ou à tradição para completá-las, a fim de tornar inteligível a evolução do povo. (P. 166) O mesmo fomenta que a tradição oral não é uma panaceia para todos os males. Mas na prática, ela se revela uma fonte de primeira ordem para os últimos séculos. Para um período anterior, seu papel se reduz, tornando-se mais uma ciência auxiliar da arqueologia. Em relação às fontes linguísticas e etnográficas, ainda não foi suficientemente explorada, embora em princípio esses três tipos de fontes devessem, em conjunto, trazer importante contribuição ao nosso conhecimento da África antiga, como faz a arqueologia. Concluindo o autor termina dizendo que as tradições têm comprovado seu valor insubstituível. Não é mais necessário convencer os estudiosos de que as tradições podem ser fontes úteis de informação. Todo historiador está ciente disso. O que devemos fazer agora é melhorar nossas técnicas de modo a extrair das fontes toda a sua riqueza potencial. Essa é a tarefa que nos espera. ( P. 166)

domingo, 27 de maio de 2012

RIZOMA: montando e desmontando nossas ideias

DELEUZE, Gilles; QUATTARI, Fêliz. Rizoma. In: Mil Platôs- capitalismo e esquizofrenia, tradução de Aurélio Guerra e Celia Pinto Costa. Rio de Janeiro: ed 34.1995. RESENHA DO TEXTO RIZOMA

Por Kátia Maria R. Gomes e Nazarete Andrade Mariano
Linha 2 – Letramento, Identidade e Formação de Professores.
Turma 2012 – Mestrado em Crítica Cultural.


RIZOMA: montando e desmontando nossas ideias

O texto trata do que Deleuze e Guattari (2000) chamam de rizoma, o qual não começa e não conclui, no entanto se encontra sempre no meio, entre as coisas. Diante dessa colocação torna-se relevante a produção de livros rizomas, uma vez que vivem interligando-se em cadeias, sem se encerrar nos capítulos. O rizoma é um modelo de realização dos acontecimentos, que tem espaços e tempos livres, onde os acontecimentos são potencialidades desenvolvidas das multiplicidades.
Para tanto, os autores utilizam-se de argumentos que estabelecem conexões múltiplas com suas ideias e com o externo como: O livro precisa existir pelo fora e no fora, pois precisa ser uma máquina de guerra, de amor e revolução. Ser também um agenciador coletivo; montando e remontando encontros e desencontros de pessoas e não pessoas, para tanto observa que os mesmos abandonam o esquema binário do uno – múltiplo, dando lugar aos jogos de forças trazendo novas misturas. Outros argumentos que fazem uso referem-se a erva daninha, já que esta incomoda, mas persiste e não morre; criando o seu espaço jardim, seja entre elas ou nos meios das flores.
Deleuze e Guattari fazem uso de um mister de referência abordando de maneira explicitas implicitamente, fazendo com que o leitor retome a leituras auxiliares para uma compreensão maior. As principais referências observadas por nós são: Heidegger – Pensamento metafísico que coloca o homem como sujeito e o mundo como objeto; Freud – O mito do Édipo que é representação da regra, do proibido seja na família, na escola, na convivência na sociedade capitalista; Marx é outro que ele faz referencia logo no início do texto de forma implícita quando aborda que “A literatura é um agenciamento, nada tem a ver com ideologia, e de resto, não existe e nem nunca existiu ideologia.” Contrapondo ao pensamento de Marx sobre ideologia e para tal se vale de Foucault que traz a Ideia de que poder tende a produzir o tempo todo. Faz uso também Kafka – por uma literatura menor e Kleist – Uma louca máquina de guerra. Usa a representação da gramática gerativa de Chomsky a linguagem a partir de uma raiz, bem como Gregory Bateson – Definição de platô para designar algo. Marcel Shwob – A pesquisa sobre a teoria rizomática com a multiplicação dos relatos históricos. Nietzsche – A percepção do aforismo. Armand Farrachi que trata da quarta cruzada em que as frases afastam – se e se dispersam, se empurram e coexistem. Pierre Rosenstiehl e Jean Petitot ao admitir o primado das estruturas hierárquicas significa privilegiar as estruturas arborencentes. Henri Miller quando diz que a erva é a nêmesis dos esforços humanos. Haudricourt – Oposição entre as morais ou filosofia da transcendência. Melaine Klein - Não compreende o problema de cartografia de uma de suas crianças, contenta-se em produzir decalques estereotipados, entre tantas outras que vão surgindo na tessitura do primeiro capítulo do livro “ Mil Platôs, intitulado de Rizoma.
Como o próprio título sugere, os teóricos se utilizam de uma metodologia peculiar como em um sistema aberto, pois tratam da liberdade de criação como: “pegar de qualquer linha” e dar continuidade a escrita, uma metodologia do criar junto um conhecimento dinâmico. Assim os autores brincam que estão construindo uma metodologia ou uma metodologia às avessas. Inclusive delimitam como palavras-chave: RIZOMÁTICA, ESQUIZOANÁLISE, ESTRATOANÁLISE, PRAGMÁTICA E MICROPOLÍTICA. – sendo que cada palavra é um platô que se conecta com outros vários, elegendo agenciamentos, máquinas de desejos e descartam a ideologia e a ciência da pesquisa.
Percebemos, portanto que os autores concluem que um livro rizoma nunca é um livro raiz, mas livro como sistema aberto, que monta e desmonta, “os livros não se fecham, se conectam com outros tantos” , assim, constituindo platôs. Livro como agenciador coletivo que não tem uma linearidade. Os autores utilizam a ideia de potencia de multiplicação para tudo, podendo ser multiplicados por vários. Anulando o início e o fim. Convidando o leitor para esse movimento de ideias do montar e desmontar sem ter um compromisso tenso com o conceituar, mas com o acontecer, com o fazer com e não o fazer como sem a preocupação do ponto de partida ou do ponto de chegada.

Movimentando o pensamento para o Rizoma

DELEUZE, Gilles; QUATTARI, Fêliz. Rizoma. In: Mil Platôs- capitalismo e esquizofrenia, tradução de Aurélio Guerra e Celia Pinto Costa. Rio de Janeiro: ed 34.1995. RESENHA do primeiro e do segundo parágrafo, assim talvez seja mais perceptível o entendimento das ideias rizomaticas de Deleuze e Quattari.

Por Nazarete Andrade Mariano
Linha 2 – Letramento, Identidade e Formação de Professores.
Turma 2012 – Mestrado em Crítica Cultural.

Movimentando o pensamento para o Rizoma

O Rizoma nos é apresentado logo de inicio, pelos autores Deleuze e Guattari, como algo que não tem uma ordem cronológica, pois é um sentido que vai além do figurado, convidando o leitor a uma inter-relação entre o sentido próprio e o sentido figurado, dando a ideia de mudança com em um sistema nômade, que acredito quer ser um sistema aberto. Vale lembrar, que nas primeiras leituras feitas, também nos sentimos meios nômades, pois apenas ficamos com as desconfianças daquilo que possivelmente é compreendido, de que o pensamento dos autores nos fosse familiar, mas logo em seguida surge uma necessidade de aprofundar nessas ideias para que não venhamos correr o risco de confundir tais pensamentos, que aparecem com uma aparência nova, como se partisse de uma circunstância. Para tanto, é pertinente conhecer nossos próprios limites para assim, adentrar em territórios antes não preparados para esse acesso à leitura de Deleuziana.
Considerando, a grosso modo e talvez metaforicamente, que o rizoma é a extensão do caule de uma planta unindo sucessivos brotos. Diferentemente das arvores ou das raízes, acreditamos que o rizoma trata da inter-relação entre os conceitos, conectando um ponto com outro ponto qualquer, que pode ser entendido como o modelo de realização dos acontecimentos do principio característico das multiplicidades, com isso, feito de dimensões, sem inicio ou fim, mas sempre no meio, por isso ele constitui multiplicidades.
Logo de inicio Nota-se que Deleuze contrapõe, de forma implícita, a metafísica de Heidegger que compreende o ser enquanto ser existente e, não por sua linguagem, como propõe Heidegger. Bem como o ser uma vez que aquele não remete a palavra ser e sim a acontecimento, colocando em jogo até mesmo pertinência do nome SER, enquanto que este diz que acontecimento é algo além do ser.
Outro ponto de divergência entre os dois é em relação a sujeito e objeto, Heidegger diz que o homem é o sujeito e o mundo é o objeto, o homem sendo aquele que dispõe do objeto. Deleuze por sua vez problematiza de forma mais geral que não é o ser, mas a experiência. Como “ Um livro não tem objeto nem sujeito; é feito de matérias diferentemente formadas, de datas e velocidades muito diferentes.” ( P. 11)
Assim, Inicia o primeiro parágrafo também contrapondo a cultura da Grécia antiga, como com o mito de Édipo sendo vista com representação teatral, como um erro. O Édipo visto como uma máquina abstrata de construção da família que tem semelhança com o funcionamento do capitalismo, estabelecendo quem manda, ou melhor, o Anti-Édipo = Capitalismo e Esquizofrenia, no centro desse conflito estar presente o pensamento de Freud do inconsciente como representação, o drama de Édipo. Para Deleuze e Guattari, ao contrário de Freud, não é povoado por atores simbólicos, mas por máquinas desejantes, onde tudo funciona ao mesmo tempo como em um sistema corte-fluxo de forma paradoxal, maquinas essas que estão a todo vapor na sociedade, máquina social ( mercado capitalista, estado, igreja, exercito, família entre outras) e a máquina que aqui os autores denominaram de desejantes, que ao mesmo tempo se alimentam dela, fazem também fugir, pelo seu inconsciente.
Continua abordando que cada um de nós somos muito, que utilizamos tudo que nos aproxima e nos distancia. Nos remetendo a um questionamento “ Por que preservamos nosso nomes? Afirmando-nos que é por habito, dizendo que assim passaremos despercebidos, e nos tornamos imperceptível, aos que nos faz agir, experimentar ou pensar. Inclusive os autores se colocam como vários, como se as ideias contidas no texto não tivessem um único dono, mas vários. Assim termina o parágrafo abordando que as pessoas chegam a um ponto de dizer que não somos mais (EU). Não somos mais nós mesmos. Cada um reconhecerá os seus. Fomos ajudados, aspirados, multiplicados. . Se eu crio um conceito de um objeto (ou outrem), eu automaticamente me anulo, pois o objeto conceituado contém a pontencialidade de me definir como outrem (ou não-eu).
Acredito que este parágrafo faz uma introdução daquilo que será posteriormente definido como Rizoma, que não somos uno, mas multiplicados, nos seus mais diversos sentidos, em velocidades mensuráveis. Considerando que o conceito é o objeto de criação do filosofo, então o conceito é múltiplo, pois se relaciona com outros conceitos. Assim compreendemos que um termo é essencialmente puro, ou exclusivamente de seu outro, que talvez não tenha uma definição única para o rizoma, uma vez que os conceitos surgem a partir de circunstancias, como uma coisa nova para explicar e estabelecer problemas.
No segundo parágrafo, faz uma abordagem de como é construído o livro, situando o livro como um agenciamento, sendo ressonâncias que tem lados de territorialização e desterritorialização, no qual monta e desmonta uma ideia, em que você tem vários dados em um determinado texto fazendo parte de uma mesma coisa, pessoas e não pessoas montando e remontando à construção do objeto para explicar a construção do que seria, posteriormente, o livro. Diante desse entendimento, percebe-se que o livro é um agenciamento e como tal é um corpo sem órgão. Mas qual é o corpo sem órgão, para Deleuze e Guatarri? Fazendo mais uma releitura, percebe-se que os autores abordam que a máquina literária é como uma máquina de guerra, como uma máquina de amor [...], então o corpo sem órgão estar presente na a-significância em que está presente a algo novo que surge a todo instante, pois é preciso criar ideias, mas também pensar na negativa dessas ideias.
Nestes dois parágrafos o autor faz inferências aos pensamentos Heidegger, Freud, de Kafka por uma literatura menor, e no final do segundo parágrafo faz uma crítica ao pensamento Marxista quando diz “A literatura é um agenciamento, ela nada tem a ver com ideologia, e de resto, não existe e nem nunca existiu ideologia”. Nessa crítica o autor faz referencia ao pensamento de Foucault a partir da ideia de poder, em que esta ideologia acaba escondendo a realidade, pois o tempo todo existe produção, com isso o poder tende a produzir o tempo todo.

SÍNTESE DO TEXTO RIZOMA

DELEUZE, Gilles; QUATTARI, Fêliz. Rizoma. In: Mil Platôs- capitalismo e esquizofrenia, tradução de Aurélio Guerra e Celia Pinto Costa. Rio de Janeiro: ed 34.1995.


Por Kátia Maria R. Gomes e Nazarete Andrade Mariano
Linha 2 – Letramento, Identidade e Formação de Professores.
Turma 2012 – Mestrado em Crítica Cultural.


O texto trata do que Deleuze e Guattari (2000) chamam de rizoma, o qual não começa e não conclui, no entanto se encontra sempre no meio, entre as coisas. Diante dessa colocação torna-se relevante a produção de livros rizomas, uma vez que vivem interligando-se em cadeias, sem se encerrar nos capítulos. O rizoma é um modelo de realização dos acontecimentos, que tem espaços e tempos livros, onde os acontecimentos são potencialidades desenvolvidas das multiplicidades.

Para tanto utilizam-se dos seguintes argumentos:

• O livro precisa existir pelo fora e no fora;
• Precisa ser uma máquina de guerra, de amor e revolução;
• Ser um agenciador coletivo; montando e remontando encontros e desencontros;
• Abandona o esquema binário do uno – múltiplo, dando lugar aos jogos de forças trazendo novas misturas.
• Refere-se à erva daninha, já que esta incomoda, mas persiste e não morre; criando o seu espaço jardim, seja entre elas ou nos meios das flores.

Como referências os autores abordam explicita e implicitamente:

• Heidegger – Pensamento metafisico
• Freud – O mito do Édipo.
• Marx - Ideologia ( A literatura é um agenciamento, nada tem a ver com ideologia, e de resto, não existe e nem nunca existiu ideologia.).
• Foucault – Ideia de poder tende a produzir o tempo todo.
• Kafka – por uma literatura menor.
• Kleist – Uma louca máquina de guerra
• Chomsky – Gramática gerativa, a linguagem a partir de uma raiz.
• Gregory Bateson – Definição de platô para designar algo.
• Marcel Shwob – A pesquisa sobre a teoria rizomática com a multiplicação dos relatos históricos.
• Nietzsche – A percepção do aforismo.
• Armand Farrachi – trata da quarta cruzada em que as frases afastam – se e se dispersam, se empurram e coexistem.
• Pierre Rosenstiehl e Jean Petitot admitir o primado das estruturas hierárquicas significa privilegiar as estruturas arborencentes.
• Henri Miller – A erva é a nêmesis dos esforços humanos.
• Haudricourt – Oposição entre as morais ou filosofia da transcendência.
• Melaine Klein – Não compreende o problema de cartografia de uma de suas crianças, contenta-se em produzir decalques estereotipados.

Utilizam da metodologia:

• Tratam da liberdade de criação como: “pegar de qualquer linha” e dar continuidade a escrita;
• Metodologia do criar junto um conhecimento dinâmico.
• Os autores brincam que estão construindo uma metodologia ou uma metodologia às avessas.
• Delimitam como palavras-chave: RIZOMÁTICA, ESQUIZOANÁLISE, ESTRATOANÁLISE, PRAGMÁTICA E MICROPOLÍTICA. – sendo que cada palavra é um platô que se conecta com outros vários.
• Elegem agenciamentos, máquinas de desejos e descartam a ideologia e a ciência da pesquisa.

Os autores concluem da seguinte forma:

• Um livro rizoma nunca é um livro raiz.
• Livro como sistema aberto, que monta e desmonta.
• Os livros não se fecham, se conectam com outros tantos ... constituindo platôs.
• Livro como agenciador coletivo.
• Livro que não tem uma linearidade.
• Utilizam a ideia de potencia de multiplicação para tudo, podendo ser multiplicados por vários. Anulando o início e o fim.